I. O MISTÉRIO DA ELEIÇÃO
Vamos partir de um denominador comum. Até um certo ponto há unanimidade absoluta de opinião. Ambos, aqueles que aceitam a doutrina da eleição, e aqueles que a rejeitam, concordam que ela é um mistério profundo, e de fato é. E que reside além do poder de compreensão da nossa mente finita. Devemos confessar, antes de prosseguirmos, que nós não a entendemos. Mas, e daí? Nós estamos cercados de mistério por todos os lados, não estamos? Tão logo abrimos a Bíblia, somos confrontados com um mistério. Porque um Deus que é onisciente, onipotente, e que poderia desde o começo, antevendo as terríveis conseqüências do pecado, não impediu que este entrasse no mundo? Mas Ele não impediu, impediu? Ou, como pode um homem que é nascido em pecado ser tido como responsável pelo seu comportamento pecaminoso? Mas é isto que a Bíblia afirma, não é? Ou, como pode um Deus que nos ama e é tão benigno e complacente, não livrar-nos completamente de nossos pecados neste mundo? Mas Ele não faz assim, não é mesmo?
Uma Vida de Mistério
As questões teológicas não são os únicos mistérios associados à raça humana. A desigualdade da experiência humana é igualmente insolúvel. Um homem nasce com visão, outro nasce cego. Um homem nasce com boa constituição física e goza de boa saúde, enquanto outro nasce com estrutura bem fraca, e não demora a ir para a sepultura. Um homem nasce na riqueza e desfruta de todo o conforto, outro nasce em pobreza, e conhece apenas a miséria. Um nasce numa família cristã e desde cedo recebe os ensinamentos do Evangelho, enquanto outro nasce num país onde ele nunca ouvirá falar de Jesus Cristo. A pessoa envolvida não tem nada a ver com as circunstâncias acima mencionadas, no entanto aquelas mesmas circunstâncias afetam não apenas sua felicidade e sua peregrinação aqui na terra, mas também o caráter da sua vida, e até mesmo o destino de sua vida. Nós perguntamos, “Por que? Por que a desigualdade? Por que Deus permite que tais diferenças existam? Por que eu nasci na América e não na África?”. Nós não sabemos porque, sabemos? Nós devemos crer que Deus tem boas e sábias razões para seu modo providencial de lidar com cada indivíduo em particular, mas no ponto em que nos achamos, em nossa condição presente, tais razões permanecem um verdadeiro mistério, não permanecem?
Os Caminhos de Deus São Misteriosos
Não é apenas a experiência humana que nos leva a conjeturar ou supor que os caminhos de Deus são misteriosos, mas a Sua Palavra realmente nos ensina que Seus caminhos são misteriosos. No livro do profeta Isaías nós lemos, “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque assim como os céus são mais altos que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos que os vossos pensamentos” (Isaías 55:8-9). O livro de Romanos explica, “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” (Rm 11:3-34). Os caminhos de Deus são de fato misteriosos.
Nossa Resposta ao Mistério
Qual deve ser então a nossa resposta a esta doutrina de mistério? É claro que não devemos permitir que este elemento de mistério seja causa para rejeitá-la. Nós não aceitamos apenas aquilo que entendemos completamente, não é mesmo? É claro, senão nós jamais poderíamos aceitar a Deus, pois não somos capazes de entendê-Lo completamente. Você vê? Não é uma questão de ignorância por um lado, e compreensão por outro lado; é uma questão da Palavra inspirada de Deus. Se a Bíblia nos ensina, por mais mistério que haja, nós devemos crer. O orgulho intelectual humano pode nos dificultar chegar lá, mas a fé humilde nos encoraja. Mas nós não podemos também ir ao outro extremo e dizer, “Trata-se de uma doutrina muito elevada! É muita teologia para mim! Um mistério! Jamais serei capaz de entendê-la, por isso nem tentarei!” Não, não! Se Deus revelou-nos Sua verdade em qualquer área, então é nossa responsabilidade conhecer aquela verdade o mais completamente possível. Eleição e predestinação são mistérios de fato, mas não tão misteriosos que não tenham significado.
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Segunda parte do artigo publicado na Revista Os Puritanos 02 de 2003 -Truth for Life. Series Editor. J. Lingon Duncan III, Ph.D.