A DOUTRINA DA ELEIÇÃO — A OBEDIÊNCIA À VONTADE DE DEUS
A obediência à vontade de Deus resume o dever da religião Cristã (Deuteronômio 10:20; 1 Samuel 12:24; Eclesiastes 12:13). Nós podemos identificar quatro áreas relacionadas a este culto racional (Romanos 12:1): seu fundamento ou base, sua forma ou essência, seu princípio regulador, e sua manifestação prática.
Em primeiro lugar, o fundamento para esta obediência é o caráter de Deus. Deus detém, em Si mesmo, toda a glória e o merecimento para ser cultuado e servido (Salmos 119:90-91; Jeremias 10:7). O Seu ser requer a sujeição do homem para honrá-lo e servi-lo verdadeiramente, e para devotar completamente a sua existência a Deus. O caráter de Deus como fundamento não exclui completamente as obras que Ele opera através do homem; ao invés disso, é possível reconhecer que a base para a obediência humana é, primeiramente, a natureza gloriosa de Deus, que Ele possui em Si mesmo, mesmo que não existisse mais nada. Esta obrigação em obedecer a vontade de Deus é efetuada pela majestade de Deus. É aí que reside a base para o dever do homem em servir e cultuar a Deus, vivendo em dedicação ao seu Criador.
Em segundo lugar, a forma ou essência desta obediência consiste no conhecimento, reconhecimento, e aprovação sincera do homem para esta obrigação imposta: viver completamente para Deus, em todo tempo e em todas as coisas. Esta afirmação é melhor compreendida como uma resolução interna por uma vida com o propósito de glorificar a Deus, tanto pela compreensão intelectual do que é requerido, quanto pela decisão volitiva de viver de acordo com as obrigações requeridas por Deus. Com uma resolução sincera, o crente voluntariamente sacrifica a si mesmo para o culto e o serviço a Deus, proclamando “SENHOR, deveras sou teu servo, teu servo” (Salmos 116:16; cf. Isaías 44:5). Além disso, subjacente a este compromisso, está a contínua súplica a Deus, por parte do crente: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmos 51:10). O desejo do crente é o de que tudo que seja vazio de piedade seja jogado fora, e que tudo que seja repleto de santidade adotado em sua vida.
Em terceiro lugar, o princípio regulador para a obediência a vontade de Deus é a revelação do conteúdo da Sua vontade, nas Escrituras. Não foi designado ao homem determinar os deveres que ele deve a Deus (cf. Mateus 15:9); ao invés disso, eles foram fixados, tanto de forma positiva, quanto negativa. Os últimos consistem das proibições de tudo o que apresenta uma falta de conformidade com o padrão de santidade de Deus. Os primeiros se referem não apenas à carta da lei moral, como expressa nos Dez Mandamentos e em suas exposições, mas também no seu espírito: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27; cf. Gálatas 5:14). Nisto reside o que é a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Portanto, a vontade de Deus detém demandas para o homem como um todo. Este padrão completo para a obediência foi concretizado em perfeição para imitação – observe a obediência de Cristo (Hebreus 5:8; cf. 1 Coríntios 11:1; Efésios 5:1-2; Filipenses 2:5-8).
Em quarto lugar, a manifestação prática da obediência é tanto uma concordância ativa, quanto uma execução da vontade de Deus (cf. Tiago 1:22; 2:24). A primeira é chamada de “atos internos de obediência”, pois obediência é o que procede de um coração sinceramente oferecido à Deus. O crente continuamente recorda as palavras de Cristo para si mesmo: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15; cf. Mateus 7:21; Lucas 6:46; João 14:21). Portanto, tudo o que Deus deseja, o crente também deseja, porque a vontade de Deus é o objeto do desejo e do deleite do seu coração. O crente realiza a vontade de Deus de coração sincero (Efésios 6:6), com alegria (Salmos 100:2).
A realização da vontade de Deus descreve os atos externos do crente: uma obediência que se estende a todas as questões e aspectos da vida diária. Esta obediência é mais comumente conhecida como as “boas obras”, as quais Deus nos revelou que precisamos cumpri-las (Deuteronômio 29:29b). Desta forma, para o crente, a religião pura e imaculada pode ser resumida a esta forma mais simples: “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1:27).
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Adaptado à partir da obra “The Christian's Reasonable Service, vol. 1, ch. 1”, de Wilhelmus à Brakel (1635–1711).
Quadragésimo primeiro artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org
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