A DOUTRINA DE DEUS — A AUTORIDADE E INERRÂNCIA DA ESCRITURA
A autoridade e inerrância da Sagrada Escritura são o alicerce sobre o qual o verdadeiro Cristianismo repousa. Nós dependemos do testemunho da Escritura para tudo aquilo que consideramos verdade no que diz respeito a Deus, ao homem, e ao caminho de salvação em Cristo. Os grandes eventos da história da redenção, tais como a incarnação do Filho de Deus na pessoa de Jesus Cristo, a Sua morte expiatória, a Sua ressurreição gloriosa, e a Sua ascensão ao Céu, estão registrados apenas na Escritura. Se a declaração da Escritura não for confiável e convincente, então nós não temos nenhuma base para a nossa fé e nada para ordenar a nossa obediência.
A escritura tem autoridade porque ela é a Palavra de Deus. Deus é primeiramente revelado como o Criador que fala com autoridade convincente para chamar a criação à existência, a partir do nada (Gênesis 1). A palavra criativa foi executada pelo Espírito Santo, que assegura o resultado pretendido pelas palavras que foram ditas. Desde aquele tempo até a vinda de Cristo, Deus continuou falando através dos Seus servos, os profetas. Na pessoa do Seu Filho, Deus falou Sua palavra definitiva, oferecendo graça, perdão, e vida eterna para todos aqueles que crerem em Cristo (Hebreus 1:1-3).
Movidos pelo testemunho do Espírito Santo, cristãos confessam que a Palavra de Deus é verdadeira e confiável, em tudo aquilo que ela afirma. Se as doutrinas fundamentais da nossa fé forem desafiadas por qualquer um, nossa resposta deve ser, “assim disse o Senhor”. Isto igualmente se aplica no que diz respeito ao que o homem acredita em relação a Deus, ou qual é o dever que Deus requer do homem. Como uma regra ou autoridade para a fé e a vida, não existe nada em comparação com a Escritura, que permanece única e suprema.
Esta autoridade se estende igualmente a todos os sessenta e seis livros da Escritura. Embora revelada “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hebreus 1:1) e mediada através de uma plêiade de escritores humanos, “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16). Ela procede de Deus como a respiração procede do corpo. A Escritura é o produto de uma mente divina e fala com uma voz divina: “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21).
A autoridade da Escritura implica em sua inerrância. Sendo a Palavra do “Deus que não pode mentir” (Tito 1:2), ela não pode errar ou extraviar-se do caminho da verdade: “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio” (Salmos 119:160). Tal era a fé da igreja do Antigo Testamento, que um cuidado muito zeloso foi tomado pelos seus escribas para preservar cada palavra e letra do texto da Escritura. O próprio Cristo confessa, “a tua palavra é a verdade” (João 17:17).
Tem ocorrido uma vã tentativa de distinguir a inerrância da infalibilidade, por parte daqueles que desejam manter a autoridade da Escritura, enquanto fazem a concessão para as declarações de especialistas descrentes sobre a Escritura conter muitos erros dos autores dos livros e daqueles que transmitiram o texto. Esta tentativa falha porque as duas palavras são sinônimas, e porque se na Bíblia existissem erros em algum ponto, poderiam haver erros em todos os pontos e, portanto, não poderia haver confiança nela.
Quando afirmamos a infalibilidade e inerrância das Sagradas Escrituras, nós não atribuímos qualquer qualidade a meros seres humanos cujas tarefas são lê-las, traduzi-las, e expô-las. Não há ofício alto o suficiente na igreja para conferir infalibilidade do homem que o ocupa. Não existe suficiente grau de aprendizado nas linguagens da Escritura e na história da sua interpretação para assegurar inerrância da parte de estudiosos e professores da Bíblia, e muito menos da parte da contrapartida secular. Nenhuma tradução das Escrituras Hebraica e Grega é absolutamente perfeita como uma representação da Palavra de Deus inspirada; nenhuma tradução é tão boa que não possa ser melhorada. Por causa da nossa compreensão limitada, de tantas formas, a leitura e a interpretação da Bíblia precisa ser um empreendimento de fé. Nós devemos confiar em Cristo como o nosso maior Profeta, no abrir dos nossos olhos para as coisas surpreendentes ensinadas na Escritura, e para conduzir-nos a uma correta compreensão e fiel aplicação delas.
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Décimo segundo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org