A OBRA DA CRIAÇÃO — A CRIAÇÃO E A GLÓRIA DE DEUS
Seja na beleza, no poder, ou na complexidade da criação, uma amostra da maravilha de Deus está gravada em todas as coisas, como um inconfundível testamento da Sua glória incompreensível. A glória de Deus tem sido proclamada na completa feitura do universo: “Os céus proclamam a glória de Deus” (Salmos 19:1) e “toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6:3).
Existem duas formas úteis de expressar a apresentação da glória de Deus na criação. Em primeiro lugar, a Sua glória é como uma luz brilhante amplamente espalhada, mesmo nos recantos mais escuros da terra. Esta luz cintilante penetra na mente de todos os homens (Romanos 1:19-20). Ela irradia abundantemente por todo o céu, onde a majestade do Senhor é derramada (Salmos 104:2). Não há nenhum lugar onde as centelhas da Sua glória não possam ser discernidas. Em segundo lugar, a glória de Deus é revelada na criação como uma imagem em um espelho. A glória do Deus invisível é visivelmente refletida pela Sua criação (Hebreus 11:3). Isto permite a todos contemplar a natureza invisível de Deus, como está retratada na Sua criação. Qualquer que seja a aparência da glória de Deus, como uma luz ou como uma imagem em um espelho, o homem não pode verdadeiramente abrir os seus olhos sem ser compelido a vê-Lo.
Apesar de toda a criação de Deus exibir a Sua glória, é o próprio homem, como o pináculo da criação, quem revela a glória de Deus mais explicitamente. Ele é um raro espetáculo do poder, da bondade e da sabedoria de Deus. Crianças tem línguas tão eloquentes para proclamar a glória de Deus que não há necessidade nenhuma de outros oradores (consulte o Salmos 8:2). O corpo humano, desde a sua boca e olhos até as unhas dos dedões dos pés, exibe um acabamento primoroso. A alma do homem, em inteligência, imaginação, memória, e até mesmo na capacidade de sonhar, proclama sobre o seu Criador. A imagem de Deus tem sido tão completamente estampada no homem que, conforme todos são adornados com um sopro da Sua glória, Deus prontamente testifica que Ele é o Pai de todos (Atos 17:28). Deus fez o homem como a Sua obra-prima, inigualável com todo o resto da criação. Mais ainda, conforme a igreja é conformada à imagem expressa do Deus invisível, Jesus Cristo (Colossenses 1:15; Hebreus 1:3), a glória de Deus se torna mais nítida.
Para o descrente, a expressão de Deus na criação não pode ser perdida, mesmo se a escuridão da sua mente tornar a imagem nublada. Para ele, a glória de Deus mostrada na criação é um testemunho contra a incredulidade (Romanos 1:19-20). Somado ao testemunho interno do coração, Deus provê no mundo inúmeras evidências da Sua existência e do dever do homem em se submeter ao seu Criador (consulte Atos 14:16-17). A glória de Deus está inscrita na criação com letras em negrito, contudo o descrente trocou a glória do incorruptível pelas imagens de coisas corruptíveis (Romanos 1:23). Esta confusão da criação com o Criador suplanta o Deus verdadeiro com a sombra de uma divindade, privando Deus do Seu direito como Criador e negando o lugar apropriado da criação como um anúncio das glórias do seu Construtor. Embora Deus docemente atrai os homens com a aparência da Sua glória, a imprudência e a superficialidade do homem, junto com a sua ignorância e cegueira, o tem conduzido a desprezar o testemunho da criação e, em última instância, a rejeitar o próprio Criador.
Para o crente, a beleza da criação proclama a beleza majestosa do seu Deus. Com a revelação da Escritura e a obra do Espírito, o crente é capaz de compreender e apreciar corretamente a glória de Deus, exibida na Sua criação. Ele escuta a extraordinária voz de Deus sobre as águas, quebrando os cedros, fazendo tremer o deserto, e fazendo dar cria; portanto, o crente adora a Senhor na beleza da santidade (Salmos 29). Ao examinar a criação, isto provoca adoração no crente, e o faz se submeter ao seu soberano Criador, que sustém a massa dos céus e da terra pela Sua Palavra. O aceno de Deus, apenas, faz tremer os céus com raios; acende o ar com relâmpagos; perturba a terra com tormentas, e então a silencia; e compele o mar a se agitar como se estivesse no meio do ar, apenas para o acalmar novamente. Tudo isto encoraja, no coração de cada crente, um temor e uma adoração reverentes ao glorioso Deus anunciado pela criação.
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Adaptado à partir da obra “As Institutas”, de João Calvino, 1.5.1-3, 13-14; 1.6.14.
Décimo terceiro artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org