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  • Foto do escritorOs Puritanos

O Culto a Deus


O culto a Deus é uma assembleia solene e uma santa convocação. Vivemos toda a nossa vida perante o Senhor, mas em certos momentos entramos em sua presença de uma forma especial. Era assim no Antigo Testamento quando o povo pactual estava sempre perante o Senhor, mas tinha momentos especiais de encontro com o Deus da aliança. Isso se chamava de assembleia solene ou santa convocação.

No Antigo Testamento o povo de Deus, o povo pactual, é chamado para cultuar. No Salmo 50 Deus chama seu povo e o reúne para “conversar” e para mostrar que tipo de culto seu povo deve prestar-lhe. Neste salmo Deus reclama do seu povo por fazer tudo externamente certo, mas não se achegar a ele com o coração correto. O povo estava tratando Deus como se tratava qualquer dos deuses pagãos e ainda esperava que ele respondesse dando-lhe bênçãos e aquilo que desejavam. Deus fica irado com este tratamento do seu povo. Veja como ele chama seu povo a estar em sua presença:

Vem o nosso Deus e não guarda silêncio; perante ele arde um fogo devorador, ao seu redor esbraveja grande tormenta. Intima os céus lá em cima e a terra, para julgar o seu povo. Congregai os meus santos, os que comigo fizeram aliança por meio de sacrifícios. Os céus anunciam a sua justiça, porque é o próprio Deus que julga. Escuta, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu testemunharei contra ti. Eu sou Deus, o teu Deus (Sl 50.4-7)

Vemos aqui que o povo de Deus é santo e pactual e que Deus tem com este povo um encontro pactual quando o convoca e lhe diz qual o culto correto e como deseja ser adorado. Neste contexto ele se apresenta como um fogo consumidor. Estes elementos voltam a acontecer no Novo Testamento, quando o apóstolo explica em Hebreus 12.29 a razão pela qual devemos cultuar de uma forma que agrada a Deus: “porque o nosso Deus é fogo consumidor”. O povo da aliança, portanto, é chamado para cultuar a Deus com santa reverência e temor.

Quem é este povo da aliança? Quem faz parte do povo do pacto? Deuteronômio 29.9-13 nos diz que Deus está firmando uma aliança com os líderes, os homens, mulheres, crianças, e até com os servos, pois no Antigo Testamento o servo para todos os efeitos era considerado como parte da família.

No Novo Testamento Deus chama seu povo, sua congregação pactual ― hakahall. Em Hebreus 12 temos ecos do Salmo 50 e do que aconteceu no Monte Sinai em Êxodo.O Salmo 50 tem os mesmos elementos. Deus é um fogo consumidor (v. 3) e que vem julgar (v. 4) e falar com seu povo no âmbito pactual exigindo deles o culto que lhe é devido. Um culto santo, agradável e aceitável aos seus olhos.

O apóstolo mostra, porém, que no Novo Testamento o caráter do culto solene se torna ainda mais profundo e tremendo. Desde o Antigo Testamento já era necessário obedecer e atender à santa convocação do Senhor. Quando Deus convocava seu povo diante do Monte Sinai que fumegava, relampejava, trovejava e via-se a presença dos anjos (At 7.53; Hb 2.2; Dt 33.2), quem ousaria dizer “não, não posso ir ao culto, pois tenho outros compromissos? Acho que papai e mamãe irão, mas eu tenho alguma coisa a comprar no shopping”. Que nada! Deus estava convocando seu povo e ai daquele que não obedecesse ao seu chamado! Se naquela época era impensável se desprezar a santa convocação, quanto mais hoje?

Um estudo bíblico não é um culto solene. Uma noite de louvor não é uma santa convocação. Um culto solene, propriamente dito, é o momento quando Deus convoca o seu povo para estar na sua presença. É o equivalente neotestamentário ao momento quando no Velho Testamento o sumo sacerdote entrava além do véu no Dia da Expiação. Temos que entender que no culto neotestamentário da Igreja de Deus, no Templo do Espírito Santo, na Congregação do Senhor, o povo de Deus está reunido diante da verdadeira arca, no Santo dos Santos celestial. Deus vem falar com seu povo. É um encontro pactual entre o Deus do universo e o povo pelo qual seu Filho derramou seu sangue. Isto é um culto! E quando Deus convoca seu povo, ai daquele que não aparecer. Se no Velho Testamento você poderia morrer sob o testemunho de duas ou três testemunhas por quebrar a Lei de Moisés, quanto mais aqueles que não querem ouvir a voz de Deus hoje. Deus é um fogo consumidor ainda hoje no Novo Testamento. Ele não mudou!

Recentemente estive conversando com um pastor que antes não conhecia as doutrinas da graça e agora é Reformado. Este conhecimento mais profundo dos ensinamentos das Sagradas Escrituras trouxe muitas mudanças na vida deste pastor e da igreja que pastoreia. O conceito de culto também mudou quando eles entenderam o culto solene como um encontro santíssimo e um diálogo pactual entre Deus e seu povo. Quando lhe indaguei sobre a mudança mais expressiva decorrente da reforma pela qual passaram, ele não hesitou em responder: “Pela primeira vez sentimos a santa presença de Deus em nossos cultos de uma forma nunca experimentada antes”.

Na tentativa de reformar a Igreja brasileira nós reformados temos escrito e falado muito sobre o Princípio Regulador do Culto que afirma que na adoração só é permitido fazer aquilo que Deus diz, e isto é muito correto. É um princípio da Reforma que diz que quem define os termos de como ter comunhão com Deus no culto solene é o próprio Deus — Ele é o grande Rei que dita as normas e nós somos o rei vassalo que obedece. Imagine um rei vassalo que foi subjugado pelo Rei vitorioso e dele recebe a lista de suas atribuições e deveres, mas também a lista das promessas de proteção feitas por este grande Rei. Tente imaginar aquele pequeno rei-perdedor da batalha dizendo ao grande Rei-vencedor: “Isso deve ser assim, você deve ficar sentado aqui e eu vou subir ali, pois quero cantar alguns cânticos para você...”. Ele nunca ousaria fazer isso, ao contrário, chegaria com o rosto no pó e esperaria com temor e tremor aquilo que o Rei poderoso determinaria. Aplicar este princípio sem entendimento, porém, torna-se mero legalismo vazio que em nada edifica a Igreja. Antes de exigir este princípio e sua aplicação, o povo precisa saber o que é um culto e entender que no culto a Igreja está diante da presença do Santíssimo, um encontro entre Deus e seu povo, entre Jesus e sua noiva.

Creio que este pequeno livro do Pr. Hyde nos mostrará o real sentido e importância do culto pactual. Nos mostrará a tradição e herança cúltica deixada por nossos pais reformados e seu valor para os nossos dias. Com santa reverência, temor e tremor, atenda a voz de Deus convocando-o a adorá-lo, mas experimentando o que o salmista diz: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor”; “Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras. Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico. Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio” (Sl 122.1; 100.1-3).

Quando entendemos que o culto bíblico é um solene encontro com o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Nosso Pai celestial, o Amado de nossas almas, que está assentado no trono do universo; aquele em cujo sangue obtemos perdão e, portanto, ousadia para entrarmos na sala do próprio Deus, unimos nossa reverência e temor à uma indizível alegria. Este é um ponto que devemos enfatizar. A alegria no culto será cultivada e expressa somente quando as pessoas estiverem profundamente convictas dos seus pecados e miséria. Nas palavras de Calvino citadas pelo Pr. Hyde:

Exortamos os homens a que não adorem a Deus de modo frígido e descuidado, e enquanto apontamos o modo, não podemos perder de vista o fim, nem omitir qualquer coisa que diga respeito àquilo que apontamos. Proclamamos a glória de Deus em termos muito mais elevados do que estávamos acostumados a proclamar antes, e com todo vigor trabalhamos para tornar as perfeições nas quais a glória de Deus brilha mais e mais conhecidas. Exaltamos tão eloquentemente quanto podemos seus benefícios a nós, ao tempo em que conclamamos outros a reverenciar sua majestade, render a devida homenagem à sua grandeza, sentir a devida gratidão por sua misericórdia, e nos unirmos em seu louvor.

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Prefácio por Kenneth Wieske do livro "O Que é Um Culto Reformado", Daniel Hyde, Ed. Os Puritanos, 2012. Ebook disponível para venda em: https://www.amazon.com.br/dp/B00IZEH2T0


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