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O Movimento Carismático: Uma Crítica Bíblica » Brian Schwertley (3/3)


Mas o que dizer de 1 Co 13:1? Não ensina esta passagem que podemos orar na língua dos anjos? “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos ...”. Fica claro pelo uso gramatical do grego (ean com o subjuntivo) e pelo contexto que Paulo está falando hipoteticamente. “Ele coloca isso, hipoteticamente, como sendo a mais grandiosa realização possível”(23) — ou seja, para fazer uma observação. Paulo não está dizendo à igreja para orar na língua dos anjos. Ele está dizendo que, não importa quão fabulosos sejam os seus dons, você precisa de amor. E, ainda que fosse possível falar a língua dos anjos, ela continuaria sendo uma língua real e traduzível, não um bando de expressões desconexas. Lingüistas têm a habilidade de observar a estrutura de uma língua e encontrar substantivos, expressões adverbiais, etc. Assim, se as pessoas estivessem de fato falando na língua dos anjos poderíamos determinar se uma língua verdadeira e real (ainda que celestial) estivesse sendo falada.

A melhor prova textual para orações em línguas é 1 Co 14:1-5.

"Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profeiza edifica a igreja. Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a igreja receba edificação".

A primeira coisa que precisa ser notada nessa passagem é, sem considerarmos qualquer interpretação do que vem a ser "a si mesmo se edifica" (vv. 4), as línguas faladas por todo o capítulo 14 são línguas estrangeiras reais, verdadeiras. Não há nada na passagem, ou no contexto mais amplo, que ensine que as línguas citadas nos versos de dois a quatro são especiais (expressões sem sentido e estáticas), únicas ou diferentes. As línguas mencionadas no versículo são línguas estrangeiras verdadeiras, da mesma forma que as línguas dos versículos 21 e 22. Esse fato é importante; se alguém crê que 1Co 14:2-4 justifica o uso de uma língua particular nas devoções, há, então, um teste objetivo para determinar se a pessoa está falando expressões desarticuladas (i.e. construções silábicas sem sentido) ou uma verdadeira língua estrangeira: a língua falada pode ser gravada e submetida à verificação de qualquer lingüista competente.

Será que essa passagem ensina o uso particular das línguas? Não. Paulo está falando acerca da edificação da igreja durante o culto público. Ele argumenta que prefere a profecia ao dom de línguas devido à sua superior capacidade para a edificação da igreja(24). Quando ele diz: “Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende ...”, ele não está dizendo aos coríntios que ele deveriam orar a Deus em línguas e em secreto; ele está enfatizando que sem um intérprete, ninguém na congregação, exceto Deus, o entende(25). Da mesma forma, quando Paulo fala acerca de orar e cantar com o espírito, ele deixa bem claro que tudo deve ser interpretado, pois está tendo lugar no culto público: “E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças, visto que não entende o que dizes?”(1Co 14:16). Não há simplesmente a mínima evidência da idéia de línguas devocionais destinadas especialmente à devoção pessoal.

Mas então o que Paulo quer dizer quando escreve: “O que fala em outra língua a si mesmo se edifica ...?” O contexto indica que Paulo está descrevendo alguém que fala em línguas na igreja sem um intérprete. Ele não está dizendo que os cristãos devem orar em línguas para serem edificados. Por todo esse capítulo, várias vezes ele sustenta a necessidade da interpretação das línguas, do contrário a igreja não é edificada: “Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir para a edificação da igreja. Pelo que o que fala em outra língua, ore para que a possa interpretar” (1Co 14:12,13). Como toda a ênfase do capítulo é na edificação do corpo, é provável que “a si mesmo se edifica” deva ser compreendido no sentido negativo. Falar em línguas sem haver quem interprete simplesmente chama a atenção para um indivíduo, e não beneficia o corpo. Falar em línguas no culto público sem um intérprete é uma forma de auto-glorificação.

Por que é significativo dizer que o falar em línguas se refere a idiomas estrangeiros e não a expressões desarticuladas e ininteligíveis? É significativo porque isso nos fornece um método objetivo para determinar se o falar em línguas moderno é verdadeiro ou se é um produto do homem. Se o movimento carismático é verdadeiramente uma obra de Deus, então uma pessoa deveria ser capaz de verificar isso simplesmente gravando as pessoas falando em línguas e fazendo com que essa gravação fosse analisada por lingüistas, para verificar-se qual língua estava sendo falada. Se línguas fossem meramente essas expressões ininteligíveis e desarticuladas que encontramos nas igrejas carismáticas e não idiomas verdadeiros, então as línguas não seriam um sinal para os incrédulos como Paulo claramente afirma. Um sinal é um milagre público e notório. “Falar em idiomas estrangeiros sem nunca tê-los aprendido constituiria certamente um milagre divino; no entanto, proferir expressões sem sentido e ininteligíveis facilmente pode ser feito tanto por um cristão como por um não redimido”.(26) Todas as vezes, que no século vinte, as “línguas” faladas pelos carismáticos foram gravadas e analisadas por lingüistas, constatou-se que de fato elas não eram idiomas verdadeiros, mas sim expressões sem sentido. O “falar em línguas” moderno sequer se assemelha a qualquer idioma, estruturalmente falando. “A conclusão dos lingüistas indica que a glossolalia moderna é composta de sons desconhecidos que não possuem vocabulário distinto nem características gramaticais. O caráter essencial desse novo movimento está portanto em desacordo com o fenômeno bíblico do falar em línguas”(27). Diante disso, concluímos que o “falar em línguas” moderno contradiz tanto o claro depoimento das Escrituras, quanto averiguações objetivas e empíricas. Aqui está um desafio a qualquer carismático ou pentecostal: grave o culto da sua igreja e analise as “línguas” objetivamente.

Há várias outras indicações que revelam que as línguas modernas são uma fraude. Os carismáticos são ensinados a falar em línguas. Dizem-lhes coisas como “Agora ore em voz alta, mas não fale em português (inglês no original)!”; ou “Comece a dizer sílabas __ apenas deixe fluir!”. Muitos carismáticos “aprendem” a falar em línguas imitando outros membros na sua congregação, ou em uma conferência. Será que nós encontramos alguém sendo ensinado a orar em línguas no Novo Testamento? Não, o caso é exatamente o oposto. Aqueles que falam em línguas no livro de Atos, por exemplo, nunca perguntam o que fazer, e a eles nunca lhes é dito para fazer ou dizer alguma coisa. Nos relatos bíblicos as pessoas falam em línguas espontaneamente. Em Atos 2:4, 10:46 e 19:6 aqueles que falaram em línguas o fizeram sem nenhuma incitação ou preparação. Na verdade, em cada um dos casos, os que falaram em línguas, até o momento em que falaram, sequer tinham conhecimento de que algo como falar em línguas existia! Assim, as línguas modernas não são apenas expressões desarticuladas e sem sentido quando comparadas aos idiomas estrangeiros falados no Novo Testamento, mas também o modo pelo qual os carismáticos recebem o “dom de línguas” é completamente diferente daquele apresentado no relato bíblico.(28)

Se as “línguas” modernas (i.e., expressões desarticuladas e sem sentido) são completamente diferentes das línguas das Escrituras (que eram verdadeiros idiomas estrangeiros), o que aconteceu às verdadeiras línguas relatadas na Bíblia? A Bíblia ensina que as línguas e os outros dons e sinais sobrenaturais cessaram.

“O amor jamais acaba; mas havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido.” (1Co 13:8-12)

Paulo contrasta os dons revelatórios da profecia, conhecimento especial e línguas, que por natureza são parciais e incompletos, com o cânon completo das Escrituras (que foi completado com os vinte e sete livros do Novo Testamento).

Aquilo que haveria de suplantar o que é parcial e aniquilá-lo é chamado de “perfeito”. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. É difícil não notarmos aqui o paralelismo antitético entre o que é “parcial” e o que é “perfeito” (completo, maduro, pleno). Como o que é “parcial” se refere a profecia e a outros tipos de conhecimento revelacionais, então poderia ser que esse “perfeito”, que suplantaria esses conhecimentos, represente o perfeito e final cânon do Novo Testamento (Tg 1:21). Isto deve-se ao fato de que tipos de revelação estão sendo propositalmente contrastados. Dessa forma, ele torna o homem de Deus perfeitamente habilitado para toda e qualquer tarefa (2Tm 3:16). Em outras palavras, haverá um tempo quando o processo revelatório de Deus será completado(29).

A principal objeção usada pelos carismáticos contra essa passagem tem a ver com a expressão “face a face”. Eles argumentam que essa expressão refere-se a contemplar a Cristo “face a face” na Sua volta; portanto, os dons sobrenaturais devem continuar até a segunda vinda. Existem dois problemas com essa interpretação. Primeiro, “face a face” é locução adverbial; e como tal ela não possui um complemento(30). Segundo, “face a face” está contrastando com “como em espelho”. Como “face a face” é uma locução adverbial sem um complemento, a idéia de que ela se refere a Cristo só pode ser assumida ou inferida. E como Paulo vinha contrastando formas de revelação do versículo 8 até o 12 faz muito mais sentido interpretar “face a face” no sentido de clareza (compreensão), em contraste a “como em espelho, obscuramente” (incompleto ou parcial).

Há outros problemas associados com a prática carismática de “falar” em línguas. Em vez de procurarem os melhores dons (1Co 12:31), eles buscam o dom que vem em último lugar na lista do apóstolo (12:28). Invariavelmente as pessoas “falam” em línguas sem a devida interpretação (contrariando 1 Co 14:28); a menos que esse requisito seja atendido, isso não contribui em nada para a edificação da igreja (14:4-5). A condição bíblica de se falar uma pessoa por vez é freqüentemente ignorada (14:27,30); pelo contrário, vários indivíduos falam ao mesmo tempo (essa decadência na própria ordem da igreja é indesculpável, pois “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas”(1Co 14:32). E mais ainda, é prática comum das igrejas carismáticas permitir que as mulheres falem no culto público (não poucas igrejas carismáticas são até mesmo pastoreadas por mulheres). As mulheres são absolutamente proibidas de falar ou ensinar na igreja, mas são ordenadas a manterem-se em silêncio (14:33-34).

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16,17). Já que temos um cânon completo, e como a Bíblia é tudo o que precisamos para a salvação, a vida e a piedade, para que servem as línguas e profecias modernas? Falar em línguas era um dos sinais de um apóstolo (2Co 12:12); uma vez que os apóstolos saíram de cena, não havia mais necessidade dos sinais distintivos do apostolado. O fato histórico de que as verdadeiras línguas e profecias cessaram com o fechamento do cânon, e o fato de que as línguas e profecias modernas não têm nenhuma semelhança com o que ocorria nos dias dos apóstolos, provam que as características centrais do movimento carismático não são bíblicas.

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Referências

23 – Frederic Luis Godet, Comentário em 1 Coríntios (Commentary on First Corinthians) (Edinburgh, T & T. Clarck, 1889), 663.

24 – O que, então Paulo que dizer com (1 Co 14:18)? Será que ele quer dizer que orava em línguas em secreto mais do qualquer outro? Não. Paulo falava em línguas mais do que qualquer outro porque ele estava constantemente pregando o Evangelho em novas áreas onde haviam diferentes línguas e dialetos. Dessa forma, Paulo, como os outros apóstolos em Atos 2, necessitava do Dom de línguas como um sinal para os incrédulos (cf. 1 Co 14:22). Se Paulo tivesse que aprender uma nova língua ou dialeto cada vez que ele chegasse a uma província ou país diferente, o progresso do Evangelho teria sido grandemente demorado.

25 – “É igualmente claro que oudeis akouse não significava que as línguas eram inaudíveis, ou que ninguém as escutava, mas que ninguém as achava inteligíveis. Alguém podia, da mesma forma, não ter ouvido nada”. (Archibald Robertson e Alfred Plummer, Um Comentário Crítico e Exegético na Primeira Epístola aos Coríntios, p. 306.

26- Gromacki, p 65.

27- Ibid., p. 67.

28 – Os carismáticos são notórios por sua teologia agüada, rasa e até mesmo anti-bíblica. Será que isso não expressa bem o fato de que todas as grandes obras teológicas (incluindo obras sobre o Espírito Santo) escritas desde o começo da Reforma foram escritas por não-carismáticos: Martinho Lutero, João Calvino, Zwinglio, John Knox, Bucer, George Gillespie, Samuel Rutherford, Jonathan Edwards, John Owen, Charles Hodge, John Murray, etc? O Espírito Santo é o Espírito da verdade. Se os teólogos carismáticos possuem uma bênção do Espírito maior do que os outros teólogos, por que, então suas obras são agüadas, inferiores e até mesmo anti-bíblicas?

29 – Kenneth L. Gentry, Jr., O Dom Carismático da Profecia: Uma Resposta Reformada a Wayne Gruden (Menphis: Footstool, 1989), p. 54.

30 - Ibid.

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