1Rendei graças ao SENHOR, invocai o seu nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos.2 Cantai-lhe, cantai-lhe salmos; narrai todas as suas maravilhas.3 Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o SENHOR.4 Buscai o SENHOR e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença.
Salmo 105:1-4
Vamos estudar esse tema vendo-o de uma forma geral, pois não teremos aqui uma passagem específica como base. No Salmo 105, apenas de uma maneira rápida, começamos a evidenciar esta questão.
Percebam aqui algumas frases paralelas. Render graças ao Senhor é invocar o seu nome. Cantar a Deus é narrar as suas obras. Isso nos mostra que orar e cantar são a mesma coisa. Cantar salmos é orar, é buscar a face de Deus. Aqui vemos como esses versículos iniciais vão mantendo uma progressão para chegar à presença do Senhor (v. 4) e como nós buscamos a face de Deus por meio da oração e do canto. O que temos de melhor para cantar e orar do que os Salmos? Cantar os Salmos é buscar a face do Senhor.
Por que cantar os Salmos?
A Igreja sempre foi uma comunidade, um povo, que canta os Salmos. Como reformados, sempre fomos Igrejas que cantam os Salmos. Mas a pergunta é: Por quê? Vivemos em uma cultura cristã em que são cantados muitos hinos contemporâneos e cantar os Salmos parece ser uma oposição a isto. Cantar os Salmos tem sido estranho às pessoas, hoje. Parece entediante, pois não temos bandas tocando e parece que não há muito júbilo na música. Mas a verdade é que este júbilo está inserido nas palavras que cantamos. Gostaria de dar algumas razões básicas do porquê cantamos os Salmos.
1) A razão principal é porque os Salmos são os cânticos do povo de Deus. Tem sido assim desde o princípio. São os cânticos de Israel. Nós cantamos os Salmos no culto porque a igreja em Israel fazia isso desde o princípio. Podemos ver isso desde a época de Moisés, quando o povo cantava os Salmos – o Salmo 90 é prova disso. Vemos especialmente nos dias de Davi quando os Salmos se tornaram o livro de cânticos do povo de Deus. O Salmo 92:1, que é um salmo para o sábado, nos diz: “Bom é reder graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo”. Então, quando cantamos Salmos no Dia do Senhor e durante toda a semana, estamos nos identificando com nossos antepassados e oferecendo um louvor que é transcendente. Algo que vai muito além dos nossos dias. Estamos cantando hinos que foram cantados há milhares de anos atrás por todo o mundo e em toda língua. Nós cantamos os Salmos porque Israel os cantou.
2) Em segundo lugar nós cantamos os Salmos porque eles são os cânticos de Jesus. O apóstolo Paulo nos diz que nosso Senhor nasceu sob a Lei. Isso significa que ele nasceu para obedecer todos os mandamentos de Deus. E um destes mandamentos é que todo macho deveria ir a Jerusalém pelo menos três vezes ao ano e o que Jesus ouvia no louvor do templo era o cântico dos Salmos. Vemos isso em I Crônicas 16. Jesus também teria aprendido a cantar os Salmos no culto semanal da sinagoga. Lemos em Lucas 4 que, como adulto, ele continuava a cantar os Salmos na sinagoga. No fim de sua vida, na instituição da Ceia, ele reuniu seus discípulos para cantar. E ao se ajuntarem para celebrar a Páscoa, nos é dito que eles cantaram um hino, e este era um Salmo. Os Salmos que eram cantados naquela celebração eram os Salmos de 113 a 118.
3) A terceira razão é que esses eram os hinos dos apóstolos. Apesar de hoje a igreja menosprezar o cântico dos Salmos, sabemos que o livro de cânticos do Novo Testamento também era o saltério. Depois da sua ascensão, Jesus continuou a prática do cântico dos Salmos na sua igreja nas orações e louvores do povo de Deus. Vejamos alguns exemplos: Quando a igreja apostólica estava sob perseguição, lemos em Atos 4 que eles cantavam e oravam diversos salmos (Salmos 2 e 146). Nós aprendemos isso das cartas de Paulo (Ef. 5 e Cl. 3) onde ele ordena que as igrejas cantem salmos, hinos e cânticos espirituais. Há um grande debate sobre o significado destas palavras. Mas, mesmo que Paulo ao afirmar salmos, hinos e cânticos espirituais, não esteja aqui se referindo somente ao cântico dos salmos, no mínimo ele manda cantar os Salmos. E mesmo que hinos e cânticos espirituais não sejam salmos, mesmo assim, ele ordena que se cantem os Salmos. Tiago 5:13 também nos diz algo semelhante: “Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores [salmos]”. Nós não cantamos Salmos apenas no culto solene, mas também quando estamos tristes, pois cantar os Salmos é uma forma de nos alegrar.
4) Os Salmos foram os cânticos da Igreja histórica ao longo do tempo. Um dos historiadores da Igreja, Eusébio, disse o seguinte:
“A ordem para se cantar Salmos, em nome do Senhor, foi obedecida por todos e em todos os lugares, pois esta ordem para cantá-los ainda é reforçada em todas as igrejas, não apenas nas cidades, mas nas vilas e até mesmo nos campos”.
A Igreja cantava os Salmos, onde quer que estivesse. E uma das formas criativas e significantes que os cristãos primitivos faziam no cântico dos Salmos era tornar evidente que aqueles antigos cânticos lhes pertenciam, os Salmos eram deles. Então, no final do cântico dos Salmos, eles cantavam as palavras conhecidas como gloria patri. Depois de cantar e orar os Salmos eles recitavam “Glória seja ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito! Como era no princípio, e hoje e para sempre, eternamente! Amém! Amém!”. Esta era uma forma de dizer para os cristãos que o saltério do Velho Testamento pertencia a eles e que aquele Senhor do Velho Testamento era o Deus deles, o Deus Trino.
Dizemos mais uma vez: os Salmos são os cânticos do povo de Deus. Apesar de a Igreja antiga ter uma herança rica no cântico dos Salmos, aquela prática de todo povo de Deus veio se tornar depois uma prática apenas dos monges. Durante a Reforma Protestante os Salmos eram orados e cantados todos os dias, porém apenas nos monastérios e os primeiros cânticos que nossos irmãos reformados traduziram foram os Salmos para que pudessem colocar as palavras de Deus e os cânticos de Deus na boca do povo. O cântico dos Salmos se tornou uma marca que identificava o que era a Reforma Protestante. Era uma forma de dizer para o catolicismo romano: “Só seus monges cantam os Salmos, mas agora todo o povo (os protestantes) canta os Salmos”. Não apenas no culto solene, pois todos os livros de cânticos reformados continham os Salmos para serem orados e lidos todas as manhãs e noites nas casas, nos lares e nas famílias e até mesmo os solteiros assim faziam. A reforma inglesa, desejando mostrar a importância dos Salmos, colocou no final de cada Salmo do seu Livro de Oração Comum o gloria patri.
Então, quando cantamos os Salmos, estamos cantando os cânticos de Israel, os cânticos de Jesus, os cânticos dos apóstolos, os cânticos da Igreja primitiva e da Reforma Protestante. Estas são 4 razões porque cantamos os Salmos.
Quais são as bênçãos de se cantar os Salmos?
Não basta apenas adorar a Deus de forma correta, mas também de coração. Podemos cair na armadilha de dizer: “Nós cantamos os Salmos, coisa que ninguém mais faz”. Mas a verdade é que nós precisamos extrair os benefícios destes Salmos. Quais as bênçãos de cantar Salmos?
1) Cantar os Salmos é crescer em nosso amor pela Palavra de Deus. Aqueles que creem que a Bíblia é a Palavra de Deus devem querer crescer em sua apreciação pela Palavra. O cantar Salmos nos ajuda a isso. Cremos que Deus nos ordena cantar os Salmos, o exemplo de seu povo nos ordena cantar os Salmos e Deus nos deu uma coleção de cânticos, de orações e meditações, para crescermos em nosso amor por sua Palavra. Jesus disse que, se nós o amarmos guardaremos seus mandamentos. Este é um ponto muito importante. Nós cristão confessamos que cremos na Palavra de Deus e dizemos com Paulo que ela é o sopro de Deus; e se Paulo falou a Palavra, devemos colocar este princípio prático de que aquilo que nós falamos de Deus é aquilo que fazemos por Deus. Como Igreja devemos implementar a doutrina da Escritura de forma bem prática cantando a Palavra de Deus.
Nós que fazemos parte de igrejas Presbiterianas e Reformadas sabemos que em nossos cultos solenes, a leitura e a pregação da Palavra de Deus é algo que fazemos de forma essencial. Mas não esqueçamos que quando cantamos a Palavra, estamos também lendo a Palavra; quando a cantamos estamos também proclamando esta Palavra. Paulo nos diz isso em Efésios 5 e Colossenses 3 quando afirma que o cantar dos Salmos é uma forma de nos encorajar uns aos outros. Nem todos são chamados para serem pregadores, mas todos somos chamados para sermos proclamadores e encorajadores, usando os Salmos. Então, nos beneficiamos quando crescemos na Palavra, ao cantá-la e guardá-la em nossos corações; memorizando-a e usando-a em diferentes momentos de nossa vida.
2) Uma segunda bênção do cantar Salmos é que assim recebemos plena santificação do Espírito. O Espírito Santo é aquele que nos santifica e o meio que ele usa para isso, primariamente é a Palavra. Quando cantamos a Palavra, podemos ter a certeza de que o Espírito Santo está usando a Palavra em nós. João Calvino citou Agostinho dizendo:
“Quando nós cantamos estes Salmos, estamos certos de que Deus põe estas palavras em nossa boca como se Ele mesmo estivesse cantando por meio de nós”.
Esse pensamento é maravilhoso! Deus não nos deu apenas a Palavra, mas quando a cantamos é como se Deus estivesse cantando em nós. Quando cantamos os Salmos, estamos louvando a Deus usando os louvores do próprio Deus. Há palavras mais honrosas do que essas? Com isso muitos se tornam convictos da salmodia exclusiva e outros quase chegam a isso.
3) Uma terceira bênção. Quando cantamos os salmos estamos usando todas as nossas emoções, afeições, paixões, e usamos nossa mente, coração e toda nossa força. Quando cantamos os Salmos estamos nos aproximando de Deus, não apenas com as palavras certas, mas com corações que caminham na direção certa. Os Salmos são um guia completo nessa jornada espiritual. São cânticos de peregrinação no mundo. Quando estamos bem ou deprimidos, em alegria ou tristeza, como peregrinos neste mundo, vemos que o Senhor está trabalhando em nós para nos renovar à imagem de Deus (Ef. 4 e Cl. 3). Os Salmos nos ajudam nesta renovação de nossa humanidade. Isso é muito importante no contexto do nosso cristianismo moderno. Eu vim de um contexto pentecostal e nele a única emoção em que nos focávamos era a felicidade. Mas nós sabemos que temos muito mais do que felicidade em nossa humanidade. Nossa humanidade é holística e nós não ficamos apenas felizes, mas tristes também. Não temos apenas fome e sede de justiça, mas de compaixão. Não estamos cheios de fé apenas, mas de dúvidas também. Cantar apenas de modo alegre é negar a nossa humanidade plena. Os Salmos nos ajudam a cantar com toda essa abrangência. Atanásio disse certa vez:
“Na lei Deus ordena, nos profetas Deus fala a respeito do Messias que viria, nos livros históricos você aprende o que Deus fez no passado, mas no Saltério, além de todas essas coisas, você aprende sobre si mesmo. Nele você encontra representado todo o mover de sua alma, todas as suas mudanças, seus altos e baixos, seus fracassos e restaurações”.
Diz mais:
“Qualquer que seja sua necessidade, você encontra nesse livro palavras de conforto, de ânimo, de motivação, palavras que expressam seus sentimentos mais internos.”
Os Salmos apresentam de forma mais autêntica e crua nossa humanidade diante do Deus todo Poderoso.
Vejamos alguns exemplos da nossa humanidade holística.
(1) Os Salmos nos ajudam a expressar exuberância – Salmo 103.1: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo que há em mim bendiga ao seu santo nome”. Isso é exuberância!
(2) Mas no saltério há também dor – Salmo 41.9: “Até o meu amigo mais íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar.”
(3) Os Salmos nos dão a esperança do céu – Salmo 17.15: “Eu, porém, na justiça comtemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança.”
(4) Isso nos ajuda muito nesse mundo caído e quebrado. Os Salmos nos ajudam a expressar nossas súplicas pela justiça de Deus – Salmo 82.3 e 4: “Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para como o aflito e o desamparado. Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.”
Estes são apenas 4 exemplos da nossa humanidade holística, mas os Salmos nos dão muito mais exemplos de emoções e sentimentos. João Calvino chama os Salmos de “a anatomia da alma”. Ele disse o seguinte:
“Costumo definir esse livro como uma anatomia de todas as partes da alma, porque não há sentimento no ser humano que não esteja aí representado como num espelho. Diria que o Espírito Santo colocou ali, ao vivo, todas as dores, todas as tristezas, todos os temores, todas as dúvidas, todas as esperanças, todas as preocupações, todas as perplexidades até as emoções mais confusas que agitam habitualmente o espírito humano”.
Por que cantar os Salmos? Porque eles são os cânticos do povo de Deus durante as eras e cantá-los nos traz muitas bênçãos e benefícios. Nos leva a aprender a Palavra de Deus, crescer em santificação e expressar todas as nossas emoções.
Como podemos cantá-los?
Eles foram escritos antes de Cristo. Como nós cristão podemos cantar hinos do Velho Testamento? A resposta está nas palavras do próprio Senhor Jesus: João 5:39 – “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas mesmas que testificam de mim”. As Escrituras do Velho Testamento apontam para Cristo. Desta maneira, em Lucas 24:27, Jesus ensinou aos discípulos a como ler os Salmos. Jesus levou seus discípulos por todo Velho Testamento mostrando-lhes a Si mesmo: “E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras”. Como nós, crentes do Novo Testamento, podemos cantar os cânticos do Velho Testamento? Enquanto cantamos, pensamos em Jesus Cristo. Os Salmos nos mostram Jesus como Deus. Os Salmos mostram a criação do mundo. O Senhor Jesus Cristo é aquele pelo qual Deus fez todas as coisas. Os Salmos falam do nascimento de Jesus, falam da sua vida inteira de obediência ao Pai, falam de Jesus encarando oposição, cantam sua entrada em Jerusalém, mostram sua agonia na crucificação, falam do seu sepultamento, celebram sua ressurreição, o louvam por sua ascensão aos céus, cantam seu reino por todo o mundo, cantam todas as nações que vêm até ele para cultuá-lo, cantam a respeito de sua volta para julgar os vivos e os mortos. Porém, o importante é cantar essas palavras não apenas a respeito de Jesus, mas é cantar com as próprias palavras de Jesus, como disse Calvino. Quando vocês cantam palavras de sofrimento nos Salmos, estão cantando as tristezas do Salvador; quando cantam as palavras de alegria da vida eterna nos Salmos, cantam as palavras de Jesus ressurreto. Então, colocar as palavras de Jesus em nossos lábios e expressá-las com nossos corações é nos unirmos a ele pela fé, é nos identificarmos com ele no seu sofrimento e na sua glória.
Ao cantarmos as palavras de Cristo em fé, os Salmos são os cânticos da Igreja militante. Em quase todos os Salmos há aquela luta espiritual entre o bem e o mal, entre justiça e injustiça, entre a Igreja e o mundo. Então, cantamos as palavras de Jesus como o povo sofredor em um mundo cheio de sofrimento e que nos causa muitos sofrimentos. Fazemos isso como a igreja militante, a igreja que luta contra o pecado. E ao cantarmos, em fé, estas palavras de Jesus, os Salmos também são cânticos da igreja triunfante. Pois é desse mundo, que é um vale de lágrimas, que olhamos e vemos os raios da luz eterna descendo para elevar as nossas almas aos céus; para elevar as nossas mentes além das circunstâncias presentes para ver a glória máxima de Deus, em contraste com uma época na qual os homens e mulheres querem glorificar a si mesmos.
Como cantar os Salmos imprecatórios?
Devemos cantar não apenas as palavras de Jesus, mas espero que pensemos: como podemos cantar o Salmo 139 e suas palavras tão duras? “Aborreço-os com ódio consumado, para mim são inimigos de fato” (v. 22). Como podemos cantar os Salmos imprecatórios? Salmos que clamam pela justiça de Deus sobre o mundo. Parece que temos de tirar estes versículos da Bíblia. Parece que não estamos entendendo as ordens de Cristo. Amar nossos vizinhos, amar o próximo, abençoar aqueles que nos perseguem, dar a outra face... Como podemos cantar estas coisas?
Vejamos 4 maneiras bem de úteis de olhar isso:
1) Quando cantamos as imprecações, as palavras de maldição, devemos meditar com temor e tremor nos terríveis juízos de Deus sobre pecadores impenitentes. Estas palavras deveriam nos lembrar de quem éramos antes de ter Cristo em nós e que devemos ter gratidão pelo que Deus fez por nós. E ao pensamos nos juízos de Deus sobre pecadores, as imprecações nos deveriam levar a uma maior preocupação com os perdidos. Devemos cantar essas imprecações não desejando que elas se tonem realidade, mas querendo que o mundo veja o perigo em que se encontra e que os pecadores fujam para Cristo que é a solução. Os Salmos imprecatórios nos ajudam a entender o juízo de Deus sobre o mundo.
2) Quando cantamos as imprecações nós aprendemos a ter paciência contra todas as tentações, pois quando olhamos para nossas aflições somos sempre tentados a olhar para a prosperidade do ímpio e desejar ter tudo aquilo. Assim somos tentados a fugir de Cristo. As imprecações nos ajudam a sermos pacientes no Senhor, pois o ímpio não vai sempre prosperar e o justo não será sempre afligido. Mas mesmo que nesta vida o ímpio prospere e que a Igreja seja afligida, haverá um fim para tudo isso. O nosso chamado, enquanto cristãos, é para sermos pacientes neste momento.
3) Quando cantamos as imprecações estamos orando para que Deus seja glorificado e sua igreja resguardada quando ele vier julgar os vivos e os mortos. Mas a parte difícil desta questão é que não devemos orar nestes termos imprecatórios contra pessoas, individualmente. Estas imprecações não dizem respeito aos nossos inimigos pessoais. Não deveríamos ter em mente nossos vizinhos, algum colega de trabalho que nos incomoda ou algum político que não suportamos. Como cristãos não temos a permissão de rogar que caia fogo do céu sobre o ímpio. Então, oramos para que Deus seja glorificado, a Igreja defendida contra um dos grandes inimigos no mundo, Satanás.
4) Quando cantamos imprecações contra esses inimigos, estamos cantando para que o Reino do Senhor venha e que sua vontade seja feita tanto na terra como no céu. Estamos orando para que o Reino de Deus conquiste e frustre todas as ações contrárias do demônio contra a Palavra de Deus. Dissemos antes que as imprecações não deveriam ser contra pessoas individualmente, mas contra inimigos públicos. Aqui dizemos que não é bem contra inimigos públicos, mas contra suas estratégias, as estratégias do Diabo. Pois Paulo disse que nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra poderes espirituais. Em II Coríntios 10:4 lemos que lutamos não para anular pessoas, mas sofismas: “as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas.” Não são palavras de maldição contra aqueles de quem não gostamos. São palavras que nos mostram o propósito glorioso do Reino de Deus, quando o reino de Deus e seu amor estarão sobre todas as coisas, de forma perfeita.
Devo terminar aqui com uma nota pastoral. Alguém poderia pensar que tudo isso soa maravilhoso, mas que é tudo muito difícil quando a música da minha igreja não é a mesma daquela de onde eu vim anteriormente ou da igreja de meus amigos. Mas eu quero encorajá-lo. Crescer e amadurecer em Cristo, crescer e amadurecer na fé, é algo que não acontece da noite para o dia. Da mesma forma, quando você veio a Cristo, suas dúvidas, suas lutas e pecados, não desapareceram logo, naquele momento. Não, isso leva tempo. Da mesma forma, demora sua apreciação por uma adoração a Deus que é de acordo com sua Palavra. Esse amor e essa apreciação levam tempo. Talvez você não esteja inteiramente convencido de cantar Salmos ou de ter uma adoração simples, mas quero encorajá-lo a que persevere nisso e oro para que as recompensas sejam maturidade e crescimento em fé. Você vai apreciar mais a Deus, a história da Igreja e certamente apreciará muito mais a simplicidade da Palavra de Deus.
Por que devemos cantar Salmos? Porque é uma prática baseada na Palavra, foi uma prática durante toda a história e traz muitos benefícios para nossa alma.
João Calvino disse em seu breve prefácio ao Saltério de Genebra, resumindo o cântico dos Salmos:
“Pois aquilo que S. Agostinho disse é verdadeiro, que ninguém é capaz de cantar algo digno de Deus, exceto o que recebemos dele. Portanto, quando procurarmos diligentemente, aqui e ali, não iremos encontrar cânticos melhores, por mais apropriados que sejam os seus propósitos, do que os Salmos de Davi, que o Espírito Santo falou e preparou através dele. Assim, cantando-os podemos estar seguros que nossas palavras vêm de Deus, como se ele cantasse em nós para sua própria exaltação.”
Amém.