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  • Foto do escritorOs Puritanos

Uma Igreja com o Rosto da Igreja de Cristo



Maria Tudor foi rainha da Inglaterra no período de 1553 a 1558. Ficou conhecida como a “Rainha Sanguinária” por sua violenta perseguição aos protestantes. Muitos protestantes verdadeiros fugiram para o continente e se refugiaram em cidades como Zurique, Genebra, Frankfurt, etc, e ali plantaram algumas igrejas. Mas em Frankfurt ocorreram alguns fatos interessantes que se assemelham aos que vivenciamos hoje no Brasil, no que se refere aos princípios da adoração e da eclesiologia.

Entre os refugiados estava William Whittingham, um erudito bíblico. Ele fugiu para Frankfurt em 1554 e depois para Genebra, em 1555. Em seu memorial na Catedral de Durham há uma inscrição dizendo que ele se casou com Catarina, irmã de João Calvino (“maritus Catherinæ sororis Johannis Calvini theologi”), mas isso é muito questionado porque não se conhece nenhuma fonte com a informação de que Calvino teve uma irmã chamada Catarina. Em Genebra ele sucedeu John Knox como pastor da congregação inglesa ali estabelecida. Whittingham, sem dúvida, foi um dos responsáveis pela tradução da Bíblia de Genebra (1560) e escreveu 12 salmos para o saltério inglês e 16 para o escocês. Em Frankfurt, ele escreveu um manual de culto com manifesta influência calvinista, para a Igreja Anglicana ali plantada e que ia além do teor “calvinista” do Livro de Oração anglicano, redigido em 1552 sob o reinado do jovem Rei Eduardo VI. Assim, Whittingham eliminou a prática da litania, o uso da sobrepeliz pelos pastores, o batismo privado, o ajoelhar-se à mesa da Ceia do Senhor, o uso de cruzes, etc, e organizou um sistema de declaração de fé que era confessada pelas pessoas antes de se unirem à igreja. Estruturou a Igreja com pastores, pregadores, presbíteros e diáconos. Tudo isso por influência da reforma continental e do que era feito e ensinado em Genebra e também em outros lugares. Sua ordem de culto serviu de modelo para a igreja dos exilados em Frankfurt.

UMA IGREJA COM O ROSTO DA IGREJA DE CRISTO

Pouco tempo depois, John Knox foi designado pastor dessa igreja e usava o manual de culto produzido por Whittingham. Logo depois, chega à cidade Richard Cox, um clérigo anglicano que depois se tornaria decano de Westminster. Martin Lloyd-Jones diz que ele era um homem forte, com “personalidade vigorosa que influenciava muita gente”. Ele se opôs a Knox e ao manual de culto. O interessante é que esse homem usou de um argumento que tem sido usado com frequência, nos dias de hoje, contra aqueles reformados que lutam por plantar igrejas mais reformadas e confessionais. Cox discordava de Knox e o enfrentava argumentando que ele deveria fazer na igreja dos exilados aquilo que era feito na Igreja da Inglaterra: Eles “... teriam de ter o rosto da igreja da Inglaterra”. Mas Knox, com sua “assombrosa energia”, respondeu: “Queira o Senhor que ela tenha o rosto da Igreja de Cristo”. Ou seja, Richard Cox nos diria hoje: “precisamos plantar igrejas reformadas... mas com o rosto da nossa denominação hoje... uma igreja com o rosto brasileiro.” Mas a isso, nossa resposta não pode ser diferente da resposta de Knox. Temos de simplesmente dizer como “o fundador do puritanismo” e o “pai do presbiterianismo”: “Não, nós temos de ter o rosto da Igreja de Cristo!”.

CALVINISMO, A MAIS PURA FORMA DO CRISTIANISMO Knox e Whittingham, consideravam o calvinismo a mais pura forma do Cristianismo. Knox se referia à igreja confessante, ao que ela confessava na Ordem de Culto escrita para os exilados de Frankfurt e que depois se tornou O Livro de Genebra (exilados ingleses de Genebra) e posteriormente O Livro de Serviço da Igreja da Escócia, O Livro de Ordem oficial da Escócia. Alguns historiadores consideram que o Princípio Regulador já havia sido forjado no documento de Frankfurt e torna-se mais definido e conhecido no prefácio do Livro de Genebra, onde se lê a primeira declaração conhecida do Princípio: “Porque não há maneira mais pronta ou certa de vir a Ele, do que nos enquadrarmos completamente à sua abençoada vontade, revelada a nós em sua Palavra ... uma forma e ordem de uma igreja reformada, limitada dentro da bússola da Palavra de Deus.” Knox chegava a provocar os anglicanos, dizendo: “Agora, se puderem provar que suas cerimônias procedem da fé e agradam a Deus, devem provar que Deus, em palavras expressas, as ordenou.”. Esse princípio regulador tinha o propósito de regular o governo e a adoração da igreja. O Novo Testamento era o fundamento, embora os princípios fossem extraídos do Velho Testamento

. Infelizmente, a congregação de exilados de Frankfurt foi dividida por causa da pressão feita por Richard Cox, e Knox foi forçado a renunciar. Knox retornou a Genebra em novembro de 1555, onde encontrou uma nova congregação de exilados ingleses. Ele se dedicava aos estudos e ajuda também a traduzir a Bíblia de Genebra, especialmente as notas marginais. Vários meses depois, parte da congregação de Frankfurt, junto com William Whittingham, veio se unir a Knox em Genebra, onde foi sucessivamente eleito presbítero, diácono e ministro. Em Genebra, Knox aprende, com Calvino, importantes lições relacionadas ao ofício e se aperfeiçoa em muitas coisas que foram aplicadas posteriormente na Igreja da Escócia.

AS DIFERENÇA ENTRE ANGLICANO E PURITANO

Martin Lloyd-Jones diz que esse episódio de Frankfurt mostra com clareza a diferença entre o anglicano e o puritano. Outras diferenças são apresentadas em seu livro Os Puritanos – Suas Origens e Seus Sucessores, mas creio que esse interessante episódio da história destaca duas coisas importantes dos puritanos em relação aos anglicanos e que são nossas hoje: (a) Um desejo de reforma plena e completa da Igreja. O puritano, diz Lloyd-Jones, não podia mais ficar satisfeito com uma Igreja parcialmente reformada, mas desejava uma Igreja plenamente reformada. (b) O puritano tinha uma perspectiva internacional e não nacional como o anglicano. E como “fundador do puritanismo” (no pensamento de Lloyd-Jones), John Knox tinha essa perspectiva internacional. Ele, e os puritanos, tinham aprendido no continente que “Somos todos cristãos: pertencemos à mesma Igreja”. Richard Cox e os anglicanos queriam uma igreja com o “rosto da Igreja Inglaterra” com sua tradição. John Knox e os puritanos desejavam uma Igreja com “rosto de Cristo”, fundamentada, em tudo, nas Escrituras.

Quando nos disserem: “Queremos uma igreja com o rosto da nossa denominação no Brasil, com sua tradição e seu status quo”, respondamos como o “fundador do puritanismo” e “pai do presbiteriano”, John Knox: “Queira o Senhor que ela tenha o rosto da Igreja de Cristo”.

_____________ Referências • Os Puritanos – Suas Origens e Seus Sucessores, PES, edição primeira, ano 1993. • https://opc.org/os.html?article_id=438&issue_id=98 (acessado em 26-02-2019). https://en.wikisource.org/wiki/Whittingham,_William_(DNB00) (acessado em 26-02-2019).

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