Na semana passada, tive várias conversas sobre se as igrejas devem celebrar a Ceia do Senhor por meio da internet. Na maioria dos casos, essas conversas não foram sobre se essas transmissões da Ceia do Senhor seriam válidas em circunstâncias normais (para um argumento de que isso deve ser considerado, veja aqui). A maioria delas foi entre ministros reformados e presbiterianos com o mesmo entendimento de igreja, ministério pastoral e sacramentos. O que discutimos nessas conversas foi se as circunstâncias extraordinárias da vida em quarentena permitiam maneiras extraordinárias de administrar a Ceia do Senhor. A The Gospel Coalition publicou duas perspectivas batisticas sobre essa questão, uma negativa e outra positiva. Além disso, o Christianity Today publicou um artigo, escrito do ponto de vista sacramental protestante, que argumenta que a Ceia do Senhor pode realmente cumprir sua função como um meio de graça, mesmo quando administrada de forma online. Por razões bastante reformadas, não creio que as igrejas devam celebrar a Ceia do Senhor virtualmente. A maior razão para esse entendimento tem a ver com a natureza do próprio sacramento. Um sacramento, no nível mais básico, é uma ação simbólica ordenada por Jesus Cristo à qual ele anexou a promessa de sua presença e bênção (Êx 20:24; Mt 28: 18-20; Lc 22:19; 1Co 10 :1-4, 16; 11: 24-25). O "sinal", nesse entendimento, não é simplesmente os "elementos" da água, pão e vinho. O sinal é a totalidade da ação simbólica que, no caso da Ceia do Senhor, é uma refeição compartilhada (1Co 10:17). Além disso, quando se trata da Ceia do Senhor, a ação simbólica de uma refeição compartilhada tem um contexto específico e divinamente ordenado: "quando vos reunis" (1Co 11:33). O “sinal” da Ceia do Senhor é uma refeição compartilhada, administrada na assembléia da aliança do povo de Deus, ou seja, a igreja reunida. Para essa ação simbólica, Cristo anexou a promessa de sua presença e bênção: “dar-te-ei ali meu amor” (Ct 7:12). Quando se trata da Ceia do Senhor, se não há refeição compartilhada, se não há assembléia pactual, não pode haver nenhum sacramento (observe que no batismo a situação é diferente, cuja ação simbólica envolve uma pessoa lavando a outra com água). Embora a ação de uma refeição compartilhada e o contexto da assembléia pactual não sejam condições suficientes para celebrar a Ceia do Senhor, são condições necessárias. Sem elas, realmente não se pode celebrar a Ceia do Senhor. Os que mais discordaram dessa linha de argumentação, o fizeram porque supervalorizam a Ceia do Senhor como um meio de graça. Argumentam que é uma grande perda passar sem esse meio divinamente designado de dar e receber o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, de fortalecer nossa fé e esperança, de receber e responder ao amor de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Contra esse sentimento, não tenho argumentos. É de fato uma grande perda, talvez a maior perda dentre muitas outras perdas que decorrem da nossa incapacidade de nos reunirmos na presença de Deus como povo da aliança no dia do Senhor. Mas a resposta adequada a essa grande perda não é tentar celebrar a Ceia do Senhor ao vivo. Por enquanto, o caminho para participar da Ceia do Senhor está fechado para todos nós. Por enquanto, não somos chamados para festejar, mas para jejuar. O que leva, ao que acredito, ser a resposta pastoral apropriada em nossa atual crise. Em situações de perda como esta, precisamos aprender a lamentar, e devemos ensinar a lamentar o povo de Deus, algo bastante difícil para aqueles (como eu) que estão acostumados à gratificação instantânea. A Ceia do Senhor é uma das maiores bênçãos que Jesus Cristo deu à sua igreja. Nossa incapacidade de celebrar a Ceia do Senhor por um tempo só pode ser, só deve ser, motivo de tristeza e lágrimas. Por enquanto, não podemos celebrar essa lembrança do Senhor “provando” e “vendo” sua bondade (Sl 34:8). Mas isso não significa que somos enviados a um estado de completo esquecimento. Não. Existe um tipo de lembrança que acompanha o exílio da cidade de Deus (Sl 137:5-6), a lembrança que leva a lágrimas fiéis (Sl 137:1-2) e que cultiva o desejo de restauração (Sl 63:1; 143:6), a lembrança daqueles que já provaram e que, pela graça de Deus, sabem que mais uma vez provarão e verão a bondade do Senhor, seja na sua mesa na assembléia pactual ou na ceia das bodas do Cordeiro (Ap 19:9). Este é o tipo de lembrança que somos chamados a cultivar em nós mesmos e em nosso rebanho neste momento. No momento, nosso jejum da Ceia do Senhor é necessário, mas lamentável. Esse jejum também é uma oportunidade de cultivar um desejo sincero pelo Senhor e por seu povo que tornará nosso banquete à mesa do Senhor ainda mais alegre quando o tempo do nosso jejum chegar ao fim. Faremos um banquete na casa de Sião!
Scott R. Swain é professor de Teologia Sistemática no Reformed Theological Seminary, em Orlando, Flórida, EUA. Fonte: Should we live stream the Lord’s Supper?
Uma familia devidamente instituida não poderia ser esta reunião pactual, onde seus membros crentes, devidamente instruidos e após momentos de oração, leitura da Palavra e principalmente a meditaçao sobre morte do Nosso amado Senhor? Penso que isto está totalmente de acordo, inclusive com o culto familiar puritano, mas tambem com a liderança paterna, como sacerdote da casa. Alem do que não podemos de forma alguma dar mais valor do que a Ceia realmente representa. Sinseramente acho um grande equivoco não ser instruido o povo de Deus realizarem a Ceia em familia.