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  • Foto do escritorOs Puritanos

Paulo sobre mulheres falando na igreja

Atualizado: 13 de abr. de 2022

O SIGNIFICADO DE LALEO E LEGO


Recentemente recebi uma carta de um estimado amigo me pedindo para enviar-lhe uma "discussão das palavras gregas laleo e lego em passagens como 1 Coríntios 14:33-39, com referência especial à pergunta: O versículo trinta e quatro proíbe todas as mulheres em todos os lugares de falar ou pregar publicamente nas igrejas cristãs?" O assunto é de interesse universal, e tomo a liberdade de comunicar minha resposta aos leitores do The Presbiteryan.


É preciso dizer imediatamente que não há problema com referência às relações de laleo e lego. À parte as sutilezas de interesse meramente filológico, essas palavras estão relacionadas umas com as outras, assim como as palavras portuguesas falam e dizem; ou seja, laleo expressa o ato de falar, enquanto lego se refere ao que é dito. Onde, então, o ato de falar, sem referência ao conteúdo do que é dito, deve ser indicado, laleo é usado, e, de fato, deve ser usado. Não há nada depreciativo na insinuação da palavra, mais do que em um bate-papo; embora, é claro, possa às vezes ser usado de forma depreciativa, assim como em um discurso verbal — como quando alguns dos jornais insinuam que o Senado está entregue à mera discussão. Essa aplicação depreciativa de laleo, entretanto, nunca ocorre no Novo Testamento, embora a palavra seja usada com muita frequência.


A palavra está em seu devido lugar, a começar na parte “b” de 1 Coríntios 14:33ss, portanto, e necessariamente, carrega ali seu significado simples e natural. Se precisássemos de algo para fixar seu significado, entretanto, isso seria fornecido por seu uso frequente na parte anterior do capítulo, onde se refere não apenas a falar em línguas (que era manifestação divina e ininteligível apenas por causa das limitações dos ouvintes), mas também ao discurso profético, que é diretamente declarado para edificação, exortação e conforto (versos 3-6). Seria fornecido de forma mais pungente, no entanto, por seu termo contrastante aqui — "calem-se" (versículo 34). Aqui temos laleo (o ato de falar) definido diretamente para nós: "Que as mulheres fiquem caladas, pois não lhes é permitido falar." Fique calada — fale: esses são os dois opostos; e um define o outro.


A ORDEM DO SILÊNCIO


É importante observar, agora, que o eixo sobre o qual gira a injunção desses versos não é a proibição de falar, mas sim a ordem do silêncio. Esse é o comando principal. A proibição da palavra é introduzida apenas para explicar o significado de forma mais completa. O que Paulo diz é resumido: “Que as mulheres fiquem caladas nas igrejas”. Isso certamente é direto e específico o suficiente para todas as necessidades. Ele então acrescenta explicativamente: "Pois não lhes é permitido falar." “Não é permitido” é um apelo a uma lei geral, válida à parte do mandamento pessoal de Paulo, e remete para a frase inicial — “como em todas as igrejas dos santos”. Ele está apenas exigindo que as mulheres de Corinto se conformem com a lei geral das igrejas. E esse é o significado das palavras quase amargas que ele adiciona no versículo 36, repreendendo-os pela inovação de permitir que mulheres falem nas igrejas — ele os lembra que eles não são os autores do Evangelho, nem são seus únicos possuidores: que eles guardem a lei que liga todo o corpo das igrejas e não buscando algum jeito inovador próprio.


Os versículos intermediários apenas deixam claro o que o apóstolo está fazendo: proibir às mulheres de falar na igreja. Sua ordem de silêncio é levada ao ponto de as proibir de fazer perguntas; e com referência especial a isso através do assunto geral, acrescenta a declaração nítida de que "é indecente" — pois esse é o significado da palavra — "uma mulher falar na igreja".


A PROIBIÇÃO É UNIVERSAL


Seria impossível para o apóstolo falar mais diretamente ou mais enfaticamente do que o faz aqui. Ele exige que as mulheres fiquem em silêncio nas reuniões da igreja (que é o que significa aqui "nas igrejas", e não uma referência a algum edifício). Ele não nos deixou em dúvida quanto à natureza dessas reuniões da igreja, pois havia acabado de descrevê-las nos versículos 26ss. Eram ordens de caráter geral para nossas reuniões de oração. Observe as palavras "cale-se o primeiro” no versículo 30 (por inferência, “na igreja”, v. 26) e compare-as com "cale-se nas igrejas" no versículo 34. A proibição de mulheres falarem abrange, portanto, todas as reuniões públicas da igreja — é a publicidade, não a formalidade disso, que é o ponto. O apóstolo nos diz repetidamente que esta é a lei universal da igreja. E faz mais do que isso ao enfatizar a palavra "Senhor" ao dizer “mandamento do Senhor” (versículo 37).


A passagem em 1 Timóteo 2:11ss é tão forte quanto em 1 Coríntios 14, embora seja mais especificamente direcionada à questão do ensino público ou governo na igreja. O apóstolo já havia neste contexto (versículo 8, "os homens", em contraste com "mulheres" do versículo 9) claramente confinado a oração pública aos homens, e agora continua: "A mulher aprenda em silêncio com toda a sujeição; e eu não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio." Nem o ensino nem a função de governar são permitidos à mulher. O apóstolo diz aqui: "Não permito", em vez de como em 1 Coríntios 14: 33ss, "Não é permitido", porque ele está aqui dando suas instruções pessoais a Timóteo, seu subordinado, enquanto lá estava anunciando aos coríntios a lei geral da igreja. O que ele instrui Timóteo, entretanto, é a lei geral da igreja. E assim ele continua e fundamenta sua proibição em uma razão universal, o que afeta toda a raça de igual modo.


ORAR E PROFETIZAR NÃO SE RESTRINGE À IGREJA


Em face dessas duas passagens absolutamente claras e enfáticas, o que é dito em 1 Coríntios 11:5 não pode ser apelado para mitigação ou modificação. Precisamente o que se quer dizer em 1 Coríntios 11:5, ninguém sabe ao certo. O que se diz aí é que toda mulher que ora ou profetiza sem véu desonra sua cabeça. Parece justo inferir que se ela orar ou profetizar velada, ela não desonrará sua cabeça. E parece justo ainda mais inferir que ela pode orar ou profetizar apropriadamente se o fizer velada. Estamos acumulando uma cadeia de inferências. Mas elas não nos levaram muito longe. Não podemos inferir que seria adequado para ela orar ou profetizar na igreja se ela estivesse com véu. Não há nada dito sobre a igreja na passagem ou no contexto. A palavra "igreja" até o versículo 16 não ocorre, e não governa a referência da passagem; apenas fornece suporte para a injunção dela. Não há nenhuma razão para acreditar que o significado de "orar e profetizar" se dá na igreja. Nem orar nem profetizar foi um exercício restrito à igreja. Se, como em 1 Coríntios 14:14, a “oração” mencionada fosse um exercício extático — como seu lugar por “profetizar” pode sugerir — então haveria a inspiração divina substituindo todas as leis ordinárias a serem consideradas. E já houve ocasião para observar que a oração em público é proibida para mulheres em 1 Timóteo 2: 8, 9 — a menos que se pretenda mera assistência à oração, caso em que esta passagem é um paralelo próximo a 1 Timóteo 2: 9.


O que deve ser observado em conclusão é:

  1. Que a proibição das mulheres falarem na igreja é precisa, absoluta e abrangente. Devem ficar caladas nas igrejas — e isso significa em todas as reuniões públicas de adoração; elas nem mesmo devem fazer perguntas;

  2. Que esta proibição tem um ponto especial precisamente para as duas questões de ensino e governo, abrangendo especificamente as funções dos presbíteros de pregar e governar;

  3. Que os fundamentos sobre os quais a proibição é colocada são universais e giram em torno da diferença de sexo e, particularmente, dos lugares relativos dados aos sexos na criação e na história fundamental da raça (a queda).


Talvez deva ser acrescentado à elucidação do último ponto que acabamos de fazer, que a diferença fundamental de conclusões entre Paulo e o movimento feminista de hoje está enraizada em seus pontos de vistas relativos à constituição da raça humana. Para Paulo, a raça humana é composta de famílias, e todos os vários organismos — inclusive a igreja — são compostos de famílias unidas por este ou aquele vínculo. A relação dos sexos na família segue-o, portanto, na igreja. Para o movimento feminista, a raça humana é composta de indivíduos; uma mulher é apenas mais um indivíduo ao lado do homem, e ela não vê razão para quaisquer diferenças no trato com os dois. Se podemos ignorar a grande e fundamental diferença natural do sexo e destruir a grande e fundamental unidade social da família no interesse do individualismo, não parece haver nenhuma razão para não eliminarmos as diferenças estabelecidas por Paulo entre os sexos na igreja. — exceto, é claro, a autoridade de Paulo. Tudo, no final, volta para a autoridade dos apóstolos, como fundadores da igreja. Podemos gostar do que Paulo diz ou não. Podemos estar dispostos a fazer o que ele ordena, ou podemos não estar dispostos a fazê-lo. Mas não há margem para dúvidas do que ele diz. E ele certamente nos diria o que disse aos coríntios: "O quê? Foi de vocês que a palavra de Deus saiu? Ou veio só a vocês?" O nosso cristianismo é para fazer o que quisermos? Ou é a religião de Deus, recebendo dele suas leis através dos apóstolos?

 

Benjamin B. Warfield

Originalmente publicado em The Presbyterian, 30 de outubro de 1919

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