A palavra "profecia" se aplica apenas à revelação inspirada que produziu as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. Em alguns casos a palavra ocorreu para designar destinos específicos de algumas personagens nas Escrituras, mas que sempre estavam relacionados à história da redenção. Raramente profecia se aplicava à pregação. Ainda assim, um profeta pregando nos dias do AT estava falando por inspiração, de tal forma que a sua pregação ficou registrada para a igreja de hoje. Desde os dias do Antigo Testamento o profeta era um tipo de "boca de Deus". Não há no Novo Testamento nenhuma definição de profecia sem relação com a Palavra inspirada de Deus, (2 Pe 1:21). Profetas não eram mestres, nem pregadores, nem professores, pois esses já eram outros dons diferentes de profecia (Ef 4:11; Co 12:8). Profetas eram canais da revelação de Deus para o fim último de escrituração de sua palavra final aos homens. Essa era a concepção judaica tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, pois sendo os apóstolos judeus, conservavam a mesma mentalidade do antigo Testamento. Não há provas consistentes de que o sentido primário do termo mudou nos dias do Novo Testamento. O sentido pentecostal moderno para profecia é o mesmo de prognosticar — pecado condenado no Antigo Testamento — e não se encontra qualquer paralelo nas Escrituras Sagradas.
O que Paulo pretendia dizer com o perfeito de 1 Coríntios 13:10?
Tradicionalmente a maioria dos teólogos têm erroneamente ensinado que "o perfeito" de 1Co 13:10 é a segunda vinda de Cristo. Essa interpretação não é exegética, sua origem deve-se a transbordamentos de ideias de outros textos, e também se fundamenta em pressupostos pentecostais/carismáticos ou simpatizantes, pelas seguintes razões:
a) Paulo nunca se referiu à segunda vinda de Cristo de forma misteriosa;
b) Paulo nunca usou o termo "teleion" em contexto escatológico;
c) Não há nenhum elemento escatológico no contexto;
d) Muitos trocam "teleion" (perfeito) por "telos" (fim) para dar um sentido escatológico à passagem, mas "telos" não é a palavra usada por Paulo naquele texto;
e) Dizer que as línguas cessariam na segunda vinda de Cristo naquele contexto enfraqueceria o argumento do apóstolo em 14:20-22, que estava tentando fazer os coríntios desistirem daquele dom temporário.
O "perfeito" é o cânon do Novo Testamento, pois Paulo é judeu e sabe que um corpo perfeito da doutrina apostólica estava para ser completado como aconteceu com o Velho Testamento. As figuras do menino que cresce e do espelho embaçado em 1Co13:11-12 referem-se aos "modos" da revelação do conhecimento e da profecia em seu tempo (em parte conhecemos e em parte profetizamos). O perfeito seria aquilo que faria cessar o modo incompleto (o que é em parte) do conhecimento da era apostólica. Essa é a interpretação também da Confissão de Westminster, "... cessando os antigos modos de revelar a sua vontade". (CFW 1/1)
Moisés Bezerril
Se o leitor deseja conhecer mais sobre o assunto, recomendamos a leitura dos livros: "O Cristo dos Profetas", O. Palmer Robertson (eBook | impresso); "A Vida de Elias", A. W. Pink (eBook | impresso); "Nada se Acrescentará: o que dizer de novas revelações hoje", Josafá Vasconcelos (eBook | impresso). Disponíveis também na Editora Clire. #profecia
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